Hipnose Clínica

O que é? O que não é? Verdades, mitos e informação sobre esta forma de terapia.

quarta-feira, agosto 16, 2006

Deixar de fumar

É provavelmente o tratamento mais “publicitado” no âmbito da hipnose clínica.

Funciona? Sim, mas nem sempre.

É importante explicar que o terapeuta não faz com que o paciente perca a vontade de fumar. Nem convence o paciente a deixar de fumar.

O paciente procura a hipnose (ou outro método) quando decide deixar de fumar. No momento em que toma essa decisão, o fumador está motivado para alcançar esse objectivo. E a hipnose funciona precisamente com base na motivação do paciente. Se ele não quiser deixar de fumar, a hipnose não o vai obrigar.

O que acontece é que, se o paciente desejar deixar de fumar, a hipnose vai não só potenciar essa motivação (aumentando significativamente o efeito desta ao nível do comportamento), como vai, principalmente, fazer com que o período de desintoxicação do organismo e de libertação do vício seja ultrapassado com menos ansiedade, menos sofrimento e menos comportamentos de substituição (por exemplo, vai diminuir a tendência para comer mais, tão comum em quem deixa de fumar). Isto faz com que diminua significativamente a probabilidade de uma recaída, pois os sintomas de privação, a ansiedade e os comportamentos de substituição são os principais responsáveis pela ocorrência de recaídas ou pela diminuição do consumo em vez da eliminação total do hábito.

Ao tomar a decisão de deixar de fumar, um fumador pode (e deve!) recorrer à hipnose para que o processo pelo qual vai passar seja o menos incómodo e o mais permanente possível. Ou seja, a hipnose faz com que seja mais fácil deixar o vício e mais difícil voltar a ele.

Regra geral, o tratamento para deixar de fumar faz-se em duas sessões: na primeira sessão o paciente pára de fumar (de acordo com a sua vontade), e a segunda sessão tem lugar duas ou três semanas depois, para se proceder a uma avaliação do processo, a uma análise dos níveis de ansiedade do paciente e para verificar se houve alguma recaída. Existem outras formas de, através da hipnose clínica, se tratar o vício do tabaco. Contudo, a que acabei de descrever é a mais habitual, pelo menos numa primeira abordagem.

Evidentemente que o sucesso desta terapia depende em grande parte da motivação do paciente (que nem sempre é real ou em medida suficiente), além de, naturalmente, depender também da capacidade técnica do terapeuta. Por essa razão, a taxa de sucesso não é muito elevada. Mas, ainda assim, é elevada o suficiente para que, ao tomar a decisão de perder o vício, um fumador considere a hipnose como uma das primeiras abordagens a experimentar, quanto mais não seja porque é uma terapia que ajuda a eliminar o vício sem recorrer a qualquer tipo de medicamentos ou administração de nicotina por outras vias (o que deixa a pessoa possivelmente livre do cigarro mas na mesma dependente da substância).

sexta-feira, agosto 04, 2006

Medo do terapeuta?

Pode dizer-se que toda a gente é hipnotizável, na medida em que toda a gente pode atingir determinado nível de transe. No entanto, e enquanto cerca de 90% das pessoas atinge sem dificuldade o nível de transe leve/médio utilizado em terapia, o número de pessoas capazes de atingirem níveis mais profundos vai sendo progressivamente menor e estima-se que apenas 10% sejam hipnotizáveis ao ponto de chegarem a um transe tão profundo que ficam à mercê das sugestões que recebem, deixam de estar em controle e chegam mesmo a ser incapazes de recordar o que tenha decorrido durante o transe.

São estas pessoas, detectadas através de um processo de casting em que se submetem a testes de sugestionabilidade e hipnotizabilidade, que são escolhidas para espectáculos de hipnose de palco, programas de televisão, etc. No fundo, só uma pequena minoria de pessoas podem "servir" a hipnose usada com propósitos de entretenimento, sendo levadas a um transe tão profundo que deixam de ter a capacidade de dizer "não" e são manipuladas no sentido de fazerem, literalmente, figuras tristes para o entretenimento alheio. Claro que, na maioria dos casos, tratam-se simplesmente de actores pagos, e não há qualquer tipo de hipnose ou transe no "espectáculo".

Uma vez que este tipo de transe muito profundo não é utilizado em hipnose clínica, nenhum terapeuta credenciado o vai induzir num paciente (além de ser contra o seu código de ética profissional, não tem qualquer utilidade em termos clínicos e não serve de forma alguma os interesses do paciente).

Portanto, numa sessão clínica, o paciente nunca perde o controlo, nunca perde a consciência, nunca adormece e nunca fica "sob o poder" do terapeuta, pois este induz apenas o nível de transe (leve/médio) necessário à prática clínica, em que o paciente se mantém acordado, consciente e com a capacidade de concordar ou discordar com qualquer sugestão ou mesmo de interromper o tratamento se assim o desejar.

Em termos práticos, pode dizer-se que toda a gente é hipnotizável. Mas há quem não deva submeter-se a este tipo de terapia. Assunto para um outro post!

É natural...

O estado de transe hipnótico não é "mágico" nem artificial. É um estado alterado de consciência que todas as pessoas normais atingem naturalmente, todos os dias. Nos instantes antes de acordar e de adormecer, ao ficarmos "pasmados" ao ponto de terem de nos chamar várias vezes até ouvirmos, ao ficarmos com a atenção totalmente concentrada numa actividade ao ponto de nem sentirmos o tempo passar... são estados de transe hipnótico. Portanto a sensação de estar hipnotizado não é nova nem desconhecida, mas sim algo a que o nosso corpo e a nossa mente estão naturalmente habituados.

Esse estado de transe, que nos é natural, é útil em termos clínicos na medida em que permite que o terapeuta comunique com o paciente de uma forma muito directa, com a atenção muito focalizada e com a mente livre de distracções.

Contudo, e uma vez que o nosso transe natural surge em ocasiões diversas e de forma espontânea, na prática clínica é necessária a utilização de técnicas que façam surgir esse estado, de forma a ser possível proceder ao tratamento. No fundo, o que um hipnoterapeuta faz é aplicar técnicas que despertam no paciente um estado que lhe é natural, mas que é necessário que surja no momento da consulta para que possa ser usado ao serviço de uma finalidade terapêutica.